Que diferença existe entre poncha, nikita
e pé-de-cabra? Entre lume e labareda,
estrela e nebulosa, mar e maresia?
Tudo isso é para beber em transe:
em copos de deslumbre, em cálices
de amizade, em taças de euforia.
Bebo nikita como quem bebe leite
pelos úberes, fulvos, de um animal mais quente.
Bebo pé-de-cabra como quem sorve o dia
desfraldado em sol, em colorida bandeira.
E bebo poncha como num prado velido
beijando a eternidade ou o pé de uma donzela.
Bebo poncha (e nikita e pé-de-cabra)
no desarmado gesto de quem corre
pelas pastagens do fulgor e da luz
ou por um céu excessivo, portentoso,
ou por uma praia límpida, extensíssima,
sem nada que a conscurpe ou perturbe.
Bebo - por vezes com assomos de uma jovial
e trémula confusão - péde-cabra e poncha,
poncha e nikita, nikita e pé-de-cabra.
Isto é, já em voo rasante às nuvens
e à brisa, aos arvoredos, pétalas e navios,
seguindo bem na pista de uma águia
em busca do seu poiso e dos irmãos.
Bebo - e porque não havia de beber
nestas margens amenas, atlânticas,
minha raiz de fogo, azul e brumas? -
nikita, poncha e pé-de-cabra
com o gosto de quem sobe altos rochedos
ou diz um estranho adeus ao fundo
das ravinas.
Bebo poncha e nikita - enquanto
não me servem, prestantes, outro pé-de-cabra,
enquanto Glenn Miller toma, noutra mesa,
o seu licor de mel, o seu mais destro
e compassado líquido
de revolver os sonhos e as emoções:
as vozes e os olhares sentimentais
de imagens tão presentes, tão outrora.
Bebo pé-de-cabra. E poncha. E nikita.
Bebo com os amigos-conterrâneos bem à vista,
cicerones das luas mais incríveis. Bebo
quase a noite ou o resto dos dias
que são berços de afecto, cordas divididas
entre ficar-partir, frementes asas
de uma saudade já, de despedida.
Bebo. E rebebo. E sou um trevo
a beber - meus senhores - copos de vida.
segunda-feira, 1 de março de 2010
Poncha, Nikita, pé-de-cabra...
15:35
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