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quinta-feira, 26 de outubro de 2017

A ORIGEM DO TERMO "BICA"

A ORIGEM DO TERMO "BICA"

   

Não existe um consenso relativamente à origem da palavra “bica”, normalmente utilizada para designar uma chávena de café em muitas zonas do país, especialmente em Lisboa. Uma das versões refere que, quando surgiram em Portugal as primeiras máquinas de café expresso, os frequentadores dos estabelecimentos não estavam habituados ao seu sabor forte e amargo. Como consequência, este tipo de café não era muito pedido. Como forma de contornar este problema, foram colocados cartazes nos estabelecimentos com o slogan “Beba isto com açúcar”. A campanha resultou e, das iniciais de cada palavra (BICA) nasceu a designação para esta bebida. Há quem refira que tudo isto se passou no mítico café A Brasileira do Chiado, sendo da iniciativa da gerência a criação do slogan com o objectivo de promover o consumo da bebida de uma forma agradável para os seus clientes. 


Antes de passarmos à segunda versão para a origem da palavra “bica” vamos recuar um pouco no tempo no que se refere à preparação da bebida. Inicialmente, o café era preparado numa cafeteira com água a ferver, onde se dissolvia o café moído ou a cevada (o chamado café de cevada). Chamava-se a esta bebida “café de borras”, devido às amargas e incómodas borras que se formavam a partir do café não dissolvido. Para contornar esta situação surgiram “sacos” porosos cuja função era coar o café. Ainda hoje há quem prefira o chamado “café de saco”, recorrendo a filtros comprados em qualquer estabelecimento comercial e a máquinas modernas. Mais tarde surgiram umas máquinas de forma cilíndrica onde o café moído era dissolvido, coado e pressionado, sendo depois vertido para as chávenas, ou para os tradicionais copos de vidro grosso, através de uma torneira (bica). Após esta pequena explicação, podemos então passar à segunda versão para a origem da “bica” e que tem como principal palco um dos mais míticos cafés alfacinhas. 



 A Brasileira do Chiado abriu as suas portas ao público a 19 de Novembro de 1905, vendendo o “genuíno café do Brasil”. Adriano Telles, seu fundador, vivera bastante tempo no Brasil, mantendo aí contactos que lhe permitiam importar café e outros produtos sem dificuldade. Três anos depois, o sucesso do estabelecimento levou a que se construísse uma Sala de Café, novidade na época e que rapidamente se tornou local de encontro obrigatório da elite da cidade de Lisboa. Advogados, médicos, jornalistas, artistas (entre eles Fernando Pessoa e Almada Negreiros), revolucionários e estudantes ali se juntavam para beber café e conversar. A partir de 1920, dizia-se inclusive que no Porto e em Coimbra se trabalhava e estudava e que em Lisboa se conversava e faziam revoluções. Nesse início de século não existiam ainda as máquinas de café expresso, sendo o café passado por sacos e vertido por uma torneirinha (bica) para cafeteiras utilizadas para servir o café à mesa. Nestas cafeteiras o café acabava invariavelmente por arrefecer e perder o seu aroma. Conta-se que um dia alguns clientes reclamaram da qualidade do café, sendo necessária a intervenção do proprietário que pediu a um empregado para encher uma chávena directamente da bica, ou seja, do saco. Com um sabor e aroma mais intensos, os clientes adoraram a bebida passando a pedir que o seu café fosse trazido directamente da bica numa chávena. Nasceu assim o termo “bica”.

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