Fotografamos muito e lembramo-nos de muito pouco
Investigadora na área da Psicologia revela que recordamos mais facilmente objectos se não os fotografarmos
Fotografamos aquele quadro naquele museu. Fotografamos o almoço de domingo e os preparativos da consoada. Fotografamos a partida para as férias, as férias e o regresso de férias. Fotografamos por fotografar. E lembramo-nos desses momentos? Nem por isso.
"As pessoas sacam das máquinas fotográficas quase sem pensar para capturar um momento, a tal ponto que estão a perder o que está a acontecer mesmo à sua frente". Nunca o sentido desta frase foi tão literal. Linda Henkel, investigadora na área da Psicologia, apresentou dados que sustentam a teoria de que as pessoas guardam menos memórias dos objectos quando os fotografam.
A experiência, cujos resultados foram publicados na revista Psychological Science, foi montada o Museu de Arte Bellarmine, na Universidade de Fairfield, nos Estados Unidos. Vinte e oito estudantes universitários foram conduzidos através das salas do museu e convidados a prestarem atenção a determinados objectos (15 com e outros tantos sem recurso a máquina fotográfica ou smartphone). No dia seguinte, a memória dos mesmo estudantes foi testada.
Os resultados revelaram que os alunos tinham prestado mais atenção aos objectos que não tinham captado com as lentes, aquilo a que a investigadora apelida de "photo-taking-impairment effect". "Quando as pessoas contam com a tecnologia para se lembrarem por elas — quando contam com a máquina para gravar um evento e por isso não precisam elas próprias de se lembrar dele —, isso pode ter um efeito negativo na forma como elas recordam as suas experiências", explica a cientista no site da Associação para as Ciências da Psicologia.
A teoria sofre um desvio sempre que algum aluno fez “zoom”, focalizando a sua atenção num determinado pormenor de um objecto. Um detalhe fotografado permite fixar a memória futura desse objecto como um todo e não apenas desse pormenor. "Isso revela que o olhar da mente e o olhar da câmara não é o mesmo", conclui Henkel, que agora pretende perceber se a fotografia recorrente influencia a memória no futuro, principalmente tendo em conta que esta foi uma experiência em ambiente controlado. Como será que se comporta o cérebro em circunstâncias normais e com situações que realmente querermos recordar?
Muitos poderão argumentar que as fotos servem precisamente para-mais-tarde-recordar. Este estudo também tem uma resposta na ponta da língua: "A quantidade de fotos e a falta de organização dos arquivos digitais pessoais desencoraja muitas pessoas de acederem aos mesmos. Para nos recordarmos das situações, temos de aceder aos ficheiros e interagir com eles e não apenas fotografar e acumular".
Texto de Luís Octávio Costa • 11/12/2013
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